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Minúsculos assassinatos

  • josiaportela
  • 4 de dez. de 2016
  • 2 min de leitura

Todos os dias acontecem milhões de minúsculos “assassinatos” por aí que muitas vezes ninguém nota. Enquanto isso, os “assassinos” saem impunes, ou até mesmo (parcialmente) inconscientes (da proporção) de seus atos.

Eles acontecem nos pequenos detalhes. Em palavras ditas de maneira torta ou ríspida ou naquelas que deveriam, mas não foram ditas na hora certa. Na ausência de demonstração de sentimentos ou na demonstração descabida daquilo que na verdade deveria ficar oculto. No resmungo que escapa, no sorriso amarelo indiscreto, na torcida de nariz que deveria ser imperceptível. Na reticente resposta que se prolonga após uma manifestação de carinho do outro. Nas insatisfações que incomodam quem as detém, mas não são apresentadas de forma clara ao outro. Na falta de paciência. Em atitudes impensadas que afetam ao outro. Na falta de incentivo, apoio. Até mesmo na mais sutil mágoa que causamos no outro ou que causam em nós.

Há “assassinatos” que atingem incessantemente o mesmo alvo, matando aos poucos cada parte dele. Até acabarem com o último fio de vida que resta. Há alguns que se recuperam parcialmente, mas nunca voltam a serem os mesmos. Em raros casos, com a remissão e o arrependimento do “assassino”, ainda em tempo, a vítima pode se recuperar, de forma lenta e não completa.

E assim, diante desses minúsculos “assassinatos”, enterram-se, pouco a pouco, cada vez mais sentimentos, desejos, oportunidades, amizades, amores. São eles que transformam as pessoas dia a dia, são responsáveis por torná-las diferentes ou indiferentes a cada nova ferida.

Ninguém está ileso. E são eles, muitas vezes, que pautam nossas ações e reações diante das coisas. Somos assassinados, mas também assassinamos... Conscientemente ou não. Talvez mesmo sem saber, os “assassinos” perdem partes do outro que talvez ainda, de fato, queiram para si, mas ferem por não dar a devida atenção e cuidado.

Entre tantas apunhaladas muitas vezes sutis, em algum momento o alvo deixa de pulsar. Cicatrizes irreparáveis surgem e não há remédio que as faça sumir. Deixamos de sentir, pelo medo de novas feridas. E então, muitas coisas se perdem.

Se cada um fosse consciente de quanto pode ser “assassino”, teríamos menos feridas abertas e menos sentimentos morrendo indevidamente por aí...


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Josiane, jornalista, profissional de marketing, fotógrafa, com uma aspiração por ser escritora e um quê de quem gosta de filosofar sobre tudo. (saiba mais aqui)

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