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A sina da rotina é a morte

  • josiaportela
  • 25 de fev. de 2016
  • 3 min de leitura

rotina ro.ti.na sf (fr routine) 1 Caminho habitualmente seguido ou trilhado; caminho já sabido. 2 Hábito de fazer as coisas sempre da mesma maneira, maquinal ou inconscientemente, pela prática, imitação; desídia etc. 3 Hábito inveterado que se opõe a inovações ou progresso. 4 Feitio e espírito conservador. 5 Relutância contra o que é novo. 6 Costume antigo.


Rotina é algo que gostaria de abominar do meu dicionário e da minha vida, por mais que saiba que um pouco sempre haverá. Um pouco, o mínimo possível, por favor. Sou inquieta com a mesmice, tenho aversão, urticária. Todas as vezes que tento definir quem eu sou, uma coisa é certa: alguém que quer distância de tudo aquilo que segue o mesmo ritmo infinito, que já é conhecido, que nunca muda. Sou movida por mudanças, novidades, cheiro de novo.


Rotina é como assistir Lagoa Azul pela quinta vez. Você já assistiu, já sabe que é água com açúcar e como vai terminar, mas insiste em assistir de novo por falta de opção, por pura comodidade ou por pura preguiça de procurar algo melhor para fazer. Porém, em algum momento, você ficará entendiado. E se aparecer um caminho alternativo reluzente aos teus olhos, o filme é facilmente substituído por algo mais divertido.


Não consigo supor que exista alguém nesse mundo que goste de rotina. Talvez exista. E se existir, que joguem a primeira pedra. Ou melhor, se apresente, porque preciso aprender com “você”, ser acomodado com a mesmice, como ser mais tolerante com a rotina.


Acredito que tudo aquilo que cai nos braços cruéis da rotina, esteja fadado à morte. E é fácil se deixar envolver por ela. A rotina dá a falsa sensação de segurança, já que desbravar o novo e desconhecido pode gerar incerteza e consequentemente medo, exigir energia, custar caro. É mais fácil pensar que é melhor deixar tudo como está, do que todo o esforço de buscar algo diferente. Ócio, sabe?


A rotina é traiçoeira e está em todos os campos da nossa vida. Da vida profissional à pessoal. É possível suportar um trabalho no qual se sabe o que fará a cada minuto do dia, do começo ao fim do expediente, durante todos os dias úteis do ano? Uma hora você vai querer espiar fora da caixa onde você está preso e a vista lá fora será muito mais atraente.


No âmbito pessoal, então, especialmente nos relacionamentos, permanecer na rotina é suicídio. Quantas queixas não ouvimos sobre rolos, namoros, casamentos e afins que chegam ao fim porque a encontraram em algum momento e nela empacaram? E tenho minha teoria porque isso acontece. Começo de relacionamento é sempre uma novidade. Afinal, é o momento de descobrir o outro, de mostrar quem você é e impressioná-lo, seduzí-lo, conquistá-lo. Imagine só um início de relação rotineiro, com as mesmas palavras, mesmas rotas, mesmos programas. Perde todo o encanto. Depois dessa fase, a pessoa amada já foi conquistada e começa o momento em que se pode dar o luxo de acomodar. Impressionar, surpreender sempre é cansativo, exige criatividade e custa caro, né?


Se já correu bastante, impulsionou o “veículo” no começo e chegou aonde queria, por que não desengatar e deixá-lo seguir no embalo? Se você pensa assim, está na hora de rever seus conceitos. Uma hora ele pára. Quando o “veículo” chegar a um ponto no qual não será mais possível visualizar o horizonte, somente ver a mesma paisagem homogênea e angustiante por todos os lados, não há mais força, reza brava ou pensamento positivo que o faça mover um centímetro e o tire dali. A solução, então, será seguir a pé, até achar um lugar novo.


Quem vive na rotina não tem história para contar, vive em um eterno déjà vu. Tem estampado no rosto um sorriso amarelo e uma resposta clichê na ponta da língua, pronta para todas as vezes que alguém lhe perguntar como está ou quais são as novidades. Ao ouvir esse questionamento, nada mais sem graça do que a resposta “Tudo na mesma”.


A rotina te mata um pouco a cada dia sem que você perceba. Os dias passam diante dos teus olhos e você perde infinitas oportunidades de inovar, de traçar uma nova rota, de surpreender e ser surpreendido.


Para que ninguém morra da doença da mesmice, deveriam incluir nos votos de casamento: “Prometo amar-te, respeitar-te e livrar-te da rotina todos os dias da nossa vida”. Além de incorporar o mesmo pedido nas preces e em todas as promessas do universo.


Portanto, como parte da minha oração, eu rogo: “Não nos deixeis cair na rotina, e livrai-nos de todo o mal. Amém!”.

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Josiane, jornalista, profissional de marketing, fotógrafa, com uma aspiração por ser escritora e um quê de quem gosta de filosofar sobre tudo. (saiba mais aqui)

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