Religião? Aquela que te faz bem (e que te faz fazer o bem)
- josiaportela
- 22 de fev. de 2012
- 4 min de leitura
Já diz o velho clichê que “futebol, política e religião” não se discutem. Porém, dizer o que pensa não faz mal à ninguém, desde que isso não represente uma ofensa. Portanto, para os mais radicais, já deixo claro desde o início que é meu ponto de vista particular, não uma verdade que deve ser assimilada por você, leitor, caso não faça sentido. Assim como as crenças, pontos de vistas também devem ser respeitados.
Estudei em escolas católicas desde o início de minha vida escolar. Precisamente foram duas, uma completamente diferente da outra na forma de “impor” as linhas de pensamento que seguiam. A primeira, onde fiquei até o final do Ensino Fundamental, demonstrava claramente sua intenção de formatar o pensamento dos alunos de acordo com sua próprias crenças. O que implica em não aceitar um mínimo detalhe que fosse divergente dos seus ensinamentos. Como exemplo disso, certa vez fui “repreendida” por um professor de Ensino Religioso por não me animar a cantar as músicas religiosas em aula. Exatamente por não concordar com isso e outras formas de pensamento, busquei outro colégio, também católico.
Cursei o Ensino Médio em um colégio salesiano que sempre demonstrou ser compreensivo e aberto às diferentes crenças. Embora seguissem todos os rituais e cerimônias, os alunos eram livres para participar, independente de sua religião. Isso, sim, considero exemplar.
Estar nessas escolas não me fez seguir o catolicismo, embora minha família também tenha raízes nele, mesmo não sendo praticantes. Quem me conhece sabe (e não tenho problema nenhum em afirmar) que não sigo nenhuma religião específica. E tão pouco me sinto à vontade de frequentar missas e outras cerimônias. Opção própria.
Porém, isso não me faz atéia. Posso acreditar em Deus, porém, tenho minha forma de particular de pensar no assunto. Acredito que ter fé em algo “superior” para mim já basta e que estar ou não nos bancos de uma igreja, em um culto, não seja fator essencial para te caracterizar como uma pessoa melhor ou pior. A verdade é que nenhuma doutrina foi tão convincente e significativa para que eu pudesse seguir seus dogmas e me sinto confortável em viver desta forma. Não preciso disso para ser uma pessoa boa e praticar o bem, ter princípios.
O problema de muitas pessoas religiosas por aí é exatamente não aceitar que alguém não possa compartilhar os mesmos conceitos, que possa existir outras formas de pensar. Outros mais extremistas insistem em afirmar que sua religião é melhor e mais verdadeira do que qualquer outra, que o resto seria “falso”. Já fui questionada por amigos pelo motivo de não frequentar sua igreja, já fui alvo de inúmeras tentativas insistentes de conversão. O que admiro são aqueles que jamais tentaram impor àquilo que acreditam. Em alguns casos, o máximo que recebi desses amigos foram convites sutis e abertos para conhecer sua Igreja ou qualquer outra, um conselho para buscá-las como forma de encontrar conforto e força em um momento difícil. Sem a menor intenção de tentarem me convencer daquilo que creem.
Penso que todas as religiões são válidas, sejam lá quais forem seus ensinamentos, suas pregações. O importante é que, independente da doutrina, ela se consolide como um “porto seguro”, transmita coisas boas, renove e lhe dê forças e sirva como exemplo para viver sua vida da melhor maneira possível. O essencial é ter crença em algo que te faça bem e te faça fazer o bem.
Religião alguma faz alguém melhor ou pior, da mesma forma que a ausência dela. Um ateu pode ter princípios e um caráter exemplar, ser tão bondoso quanto um religioso convicto. Todos nós sabemos de ao menos um exemplo de pessoas que usem a crença como “muleta”, como forma de se aproveitar dos outros. Àqueles que passam seus dias sendo pessoas ruins fora da Igreja, mas dentro dela vestem uma máscara para tornarem-se “pessoas de bem”. Pobres de espírito que usam sua fé para parecerem pessoas honestas diante dos demais, mas na realidade seus atos demonstram alguém bem diferente e tudo não passa de discurso vazio, decorado para impressionar. Ou aqueles que seguem caminhos tortuosos durante boa parte da vida e usam a religião para convencer a si mesmo ou aos outros de que se transformaram, mas na primeira oportunidade tudo vai por água abaixo e voltam a ser como eram antes, se não piores. (O que não se aplica àqueles que realmente se convertem e se arrependem de todos os erros que possam ter cometido anteriormente, traçando um caminho novo a partir dali.)
Seja livre para acreditar e praticar aquilo que faz sentido para você, tenha o “Deus” que for melhor para guiar seus passos. Porém, lembre-se de que há uma enorme diversidade ao seu redor. Nada mais chato do que a tentativa de impor o que se pensa como verdade absoluta. E não se esqueça de que você é dono da verdade. Quem te garante que a sua religião é “mais real” do que a de seu vizinho?
Sinta-se à vontade para aconselhar alguém de acordo com suas crenças, mas esteja aberto para aceitar que sua doutrina possa não fazer sentido para alguém. E não saia por aí tentando convencer e converter à todos de maneira importuna. Seu desejo pode ser mostrar o que ao seu ponto de vista é um bom caminho, mas aceite que o outro é livre para decidir se quer ou não conhecer os ensinamentos de sua Igreja ou buscar seus próprios caminhos. E não se esqueça: pense muito bem antes de julgar alguém por sua forma de pensar ou crença, exatamente por você ou qualquer outro ser nesse mundo não ter a garantia de ser “o dono da verdade”. Cada um recorre aquilo que completa suas necessidades e anseios.
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