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“Mulher sonha, homem vive”

  • josiaportela
  • 26 de ago. de 2010
  • 4 min de leitura

[A execução do meu TCC tem me permitido conhecer um pouco do mundo de várias pessoas. Aliás, mundos às vezes muito diferentes do qual estou habituada. Ouvir um pouco de suas histórias de vidas, aspirações, desejos, reflexões… Descobri o quanto eu adoro isso! Tem sido uma experiência pessoal valiossíma. Entre tantos aprendizados que as entrevistas e principalmente a decupagem de horas e horas de conversa tem me proporcionado, os quais pretendo discutir nesse blog nos próximos posts, permito-me, mais uma vez, falar de homens, mulheres, relacionamentos. A frase que dá título a esse post nada mais é do que a fala de um dos nossos entrevistados.]


O papo surgiu de uma conversa sobre as intenções de nosso entrevistado de um dia viver a vida de casado, partiu para os conselhos que ele dá para a sobrinha de 20 anos que pretende casar. Então veio o trecho que me chamou a atenção no momento da conversa e mais ainda ao ouvir novamente a gravação: “Algumas mulheres também fazem isso, mas com os homens é mais frequente. Homem enjoa. Mulher sonha, homem vive”.


Em toda a sabedoria que já notei no recitador dessas palavras, que são fruto de pura vivência e experiências pessoais, tenho que admitir: ele tem razão. E talvez aí é que esteja a raiz dos problemas de nós mulheres.


Desde pequenas, a maioria das meninas é condicionada a sonhar com o tal príncipe encantado que chega em um belo cavalo branco, como nos contos de fada. O esperado beijo que acorda e salva a “bela adormecida”, o casamento na Igreja, com véu, grinalda e toda pompa que se pode imaginar. E enfim, o tal “viveram felizes para sempre” que fecha as histórias. Só esqueceram de contar para elas que as coisas só são perfeitas assim nas estórias de crianças. Ainda mais atualmente, totalmente irreais. (momento desilusão on, mas muitas vão concordar!)


Homens não se deixam levar por meras ilusões, simplesmente vão, fazem o que querem, se não deu certo, sem muita insistência, pulam para a próxima. Se deu, aproveitam enquanto é conveniente e quando enjoam, também partem para outra, sem grandes dificuldades, peso na consciência ou resistência. Enquanto isso as mulheres se enchem de ilusões, criam expectativas fantásticas mesmo quando todo o universo conspira contra e tudo indica que a real é que não adianta insistir, ela vai definitivamente ‘acabar morrendo na praia’. Depois que as previsões anteriormente recusadas se concretizam, as expectativas vão para o ralo, e elas nós choram por mais uma desilusão que se acumula para a coleção.


Qual seria então o problema das mulheres e qual a solução para elas (sim, eu me incluo aí) saírem um pouco do mundo dos sonhos e passarem a simplesmente viver mais, exatamente como os homens fazem? Deve fazer parte da nossa natureza, pensamos demais (e comooo!), esperamos demais, queremos demais. Eles nem tanto. Tiramos o pé do chão facilmente, enquanto eles os mantém intactos. Talvez falte uma dose de impulsividade no agir e conseguir fazer como eles fazem: respira fundo, parte para a outra, sem qualquer dificuldade ou ressentimento.


Mesmo quando as mulheres notam que o mundo anda mais cheio de “sapos” que jamais vão virar “príncipes encantados” e se esforçam para se conformar que essa é uma espécie em extinção, lá no fundo, ainda há a esperança de uma luz no fim do túnel, alguma exceção que venha salvar a estória e traga o “viveram felizes para sempre” para finalizar.


Enfim, se existem homens e mulheres, é porque as diferenças tem que existir. Homens nasceram para serem “durões” (ao mesmo é o que se espera da maioria) e as mulheres são “molengas” mesmo. Viva as diferenças! Mulheres tão frias e impassíveis quanto os homens criariam uma nova divisão, assexuada. Perderia totalmente a graça.


Só defendo uma teoria: os contos de fadas devem ser revisados. Nada de príncipes encantados que são a solução dos problemas das pobres mocinhas. Com a atual situação que nos cerca, as meninas devem aprender desde pequenas sobre os “sapos” que existem por aí. Dessa forma, amenizaria um pouco o caráter tão sonhador que vem intrínseco na vida das garotas desde que tomam consciência do mundo e as preparam para serem mulheres bem resolvidas, autosuficientes e que não ficam esperando pelo “bom moço” imaginário, fantasioso. (Tá, brincadeira, estou exagerando!)


Ah, e o clichê “viveram felizes para sempre” também deve ser eliminado de tais estórias. Pobres meninas, não tem que crescer acreditando cegamente nisso. Ninguém vive feliz para sempre. O “para sempre” é uma ficção, um “lugar imaginário” inventado para amenizar a sensação ruim que poderíamos ter diante da certeza da finitude das coisas. Pode até ‘viver feliz’ até que mude o contexto, o sentimento acabe, ou, como dito pelo personagem das falas aqui descritas, no caso dos relacionamentos: até o homem enjoar. Ou a mulher enjoar e partir para a outra, por que não?! Ainda temos essa capacidade. Talvez menos que eles, é um pouco mais penoso para nós, mulheres, mas ainda assim somos capazes.


Bom, mas como nosso caro entrevistado também afirma, para nos salvar no último ato, mulheres ainda tem uma vantagem. Se fossem palavras ditas por uma mulher, não teria tanta força perante os homens. Mas homem falando de homens, aí sim ganha credibilidade. Portanto, queridos, aprendam a lição com ele:


“Se vocês soubessem o poder que vocês tem... Homem finge que manda, homem tenta articular. Igual a Clarice Lispector, ela tem um poema que chama “O bobo”, eu lembro de uma partinha só ‘O esperto vence com úlceras no estômago, o bobo não percebe que venceu’. O homem morre com úlcera de tanto querer enganar a mulher. A mulher, se quiser, engana sem o homem perceber.”


É, leitores (homens), mesmo sonhando demais muitas vezes, nós ainda temos o poder!


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Josiane, jornalista, profissional de marketing, fotógrafa, com uma aspiração por ser escritora e um quê de quem gosta de filosofar sobre tudo. (saiba mais aqui)

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